quinta-feira, 19 de agosto de 2010

4/08 a 14/08 - Um pouco de Cuba (parte 2)



Por Larissa Laurelli

Muitas foram as vezes que me inspirei em Cuba, que refleti e me imaginei escrevendo sobre cada sensação que este belo país gerou em mim. Talvez porque percorremos largos quilômetros, a maior parte deles durante o dia (pela pouca quantidade de ônibus por dia). Outras vezes, influenciada pelos dizeres revolucionários que há por toda parte, ou a partir dos livros que tentei ler no caminho (já que o preço e os temas dos livros cubanos nos fizeram comprar uma soma de 5 livros, que não foram mais apenas pelo peso que é carregar-los).
Entretanto, deixamos boa parte das nossas coisas em Havana e por cerca de cinco dias tivemos o deleite de viajar com pouca bagagem, sem computador, sem acesso à internet e sendo acolhidos pelos arrendadores divisas (casas particulares que alugam quartos). Por conta disso, quase nada foi escrito ou postado até o momento.
Em Havana ficamos na casa de Mirtha e Jorge, que contataram amigos nas demais cidades. A cada vez que chegávamos, alguém nos aguadava com plaquinhas com nossos nomes. A parte negativa é que muitas vezes nós que tínhamos que pagar o taxi, e sempre começávamos a conversa reclamando do frio que fazia no ônibus por conta do ar condicionado.
De inicio Cuba nos impactou pelas duas moedas e chegamos a ficar preocupados de que não aceitassem nosso dinheiro ou que se aproveitassem da nossa inexperiencia com o cambio... Em seguida me chamou a atenção o aviso de que teríamos que tomar cuidado com os espertinhos que querem trocar dinheiro e oferecer coisas, mas que nunca teriam armas ou coisas do tipo. E realmente vimos alguns desses tipos, muitos oferecendo lugares para jantar e charutos a preços mais baratos. Algumas vezes nos pediam dinheiro no final, ou sabonete, mas não vendiam coisas (vimos alguns poucos casos) porque é proibido, realidade muito distinta do México...
A ilha estava de férias...não apenas férias escolares, mas de muitas áreas, pois valorizam que as famílias possam ficar com os filhos nesse período. Além do mais, nos disseram que alguns setores trabalham apenas um período para poupar energia, e nos demos conta de que não há apenas uma falta de produtos, mas também uma política de economia dos recursos naturais e de aumentar a durabilidade dos produtos, coisa que está do avesso nos países capitalistas, que se preocupam em fazer coisas cada dia mais descartáveis.
A revolução se faz a cada dia, está na ação e no discurso de cada um nas ruas. Os valores socialistas e humanitários são transmitidos tanto na escola quanto na grande oferta cultural da ilha. Dia 13 de agosto, dia do aniversário do Fidel, vimos uma atividade que me marcou muito: uma apresentação de balé em uma praça. O objetivo da apresentação era justamente o de decodificar o balé, de ensinar às pessoas a linguagem do balé para que pudessem praticar e apreciar.
Conversamos com uma senhora muito simpática (como praticamente todos que conversamos) que trabalha no Ministério de Educação, chamada Olga Franco. Através dela vimos que a educação popular está no centro da política do ministério e compreendemos um pouco como são transmitidos determinados valores; como os materiais pedagógicos são revisados; como a educação está ao acesso de todos, independentemente da idade e do nivel educativo.
A educação foi uma das primeiras questões a serem investidas pelo governo depois do triunfo da revolução em 1959. Já em 1961 o analfabetismo de nivel primário foi erradicado.
Entretanto, como a contradição está presente até em Cuba, vimos, por exemplo, grandes debilidades na infraestrutura e conceitos dos museus, o que revela que a educação informal, a que tivemos mais acesso nesses 10 dias, ainda pode melhorar muito. Alguns museus, como o da Revolução em Havana e o do Quartel de Moncada em Santiago de Cuba são bastante elaborados, e nos fizeram ter uma idéia muito clara do processo revolucionário, principalmente entre 1953 (tentativa de tomada do Quartel de Moncada) e 1962 (crise dos mísseis), ou seja, entre o princípio e consolidação da Revolução. Outros eram extremamente simples, principalmente os monumentos coloniais e referências ao processo de independência. Tive a impressão de que a história colonial é menos contada que a independência e a revolução, e que a história da independência tem mais peso do lado oriente da ilha, onde foram fundadas as primeiras cidades e onde despontou o movimento independentista.
Também falamos com algumas pessoas responsáveis pelo Patrimônio Cultural da cidade de Camaguey, que exaltaram bastante o cuidado pelo patrimônio e história do país. Também falaram de quanto os museus estão integrados com a educação formal dada nas escolas. Com elas conseguimos trocar algumas experiências do Brasil, o que foi muito interessante. Entre entusiasmos e decepções, entramos em todos os museus que o tempo e a quantidade de CUCs no bolso deixaram.
Na última noite da nossa viagem, outra vez na casa de Mirtha e Jorge, esta senhora nos surpreendeu. Primeiro nos disse que começou estudando jornalismo, mas acabou se formando em História. Depois de que vinha de família burguesa, que alguns parentes saíram do país com a revolução, mas que sua mãe também era revolucionária e que sempre lhes ensinou valores distintos do que se prega no capitalismo. Além disso, afirmou com grande convicção que não sente a menor falta das grandes lojas que haviam em Cuba antes da revolução, nem da suntuosidade que teve a oportunidade de conhecer em alguns países da Europa. Sim ficaria feliz com mais diversidade na alimentação, mas apenas se isso fosse para todos.
Mirtha nos falou da grande confiança que tem nos jovens, e de quanto eles têm compreendido o processo revolucionário, dando continuidade ao que já vem sendo feito. Isso me deu ainda mais certeza de que a revolução seguirá com ou sem Fidel, com ou sem bloqueio. E esperamos que estes frutos sejam colhidos também fora da ilha. As sementes já estão sendo plantadas. Próximo destino? Venezuela...

¡Hasta la victória, siempre!

Um comentário:

  1. Recomendo a leitura de Pedro Juan Gutierrez: cru e seco, mas sem perder a ternura.

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