terça-feira, 3 de agosto de 2010

28/07 a 3/08 - De Chiapas a Cancun (rumo a Cuba)

Por Carlos e Larissa.





Como vivenciar Chiapas intensamente, mudar algumas vezes de cidade com a mala nas costas (nos braços, dorso, cintura...) e ainda ter tempo de registrar e postar algo? Como encontrar palavras para falar de uma mistura de um passado pré-hispânico envolvido pela selva com uma realidade dura e crua de exército nas ruas e murais zapatistas? Como acostumar-se com o sol ardente e a chuva abundante, as noites mal dormidas, os transportes coletivos de todos os tipos e a comida picante?

Não poderemos falar de tudo que vivemos estes dias algumas horas antes de ir pra Cuba, em um lapso no tempo que chamamos de Cancun. Um dia para respirar e dar uma de turista... Mas nos desanima ver turistas gringos pagando ônibus com dólar e praias cercadas por hotéis que limitam seu acesso e monopolizam todas as sombras existentes, alugáveis a quem pode, não a quem quer... um lugar para tomar uma ducha? Só para hóspedes...





Nossos sonhos frutificam muito mais em terras chiapanecas, caminhando no sol ou na chuva junto a lutadores do povo. Mas sim, o mar daqui é realmente e absurdamente azul e seu desfrute ainda não foi privatizado. Ainda.

Se nos perguntarem o que aprendemos na semana Chiapas de nossa jornada, dois verbos virão: "procurar e esperar". A aparência contraditória se quebra e a mistura é necessária para enfentarmos e imergirmos na realidade deste pedaço de mundo, nos livrando de construções pré-fabricadas e paradigmas, que se desdobram quando já tudo parece certo e definido.

É neste instante que surge uma barreira, um portão fechado e a vontade de trocar o diploma de jornalismo e o rosto de turista por um taco de nopales. E lá estamos nós em um pau de arara lotado de gente e mercadoria, falando em línguas indígenas muito além de nosso alcance. Então outros portões se abrem, de um jeito bom que não esperávamos.

Respostas. Quem procura, quer respostas, ou novas perguntas. As nossas tem surgido das maneiras menos óbvias, que nos fazem reavaliar o significado da procura e a necessidade da espera, que exagerada nos leva a quase perder o passo seguinte, mas que ao mesmo tempo nos serve de resposta, exatamente como não esperávamos.

Convidamos aos que lêem a fazerem uma marcha diferente. Sem carros de som e bandeiras de pano. A chuva caindo, hora fraca, hora forte. Os passos sempre constantes e ritmados por uma música entoada em silêncio, reforçada pelo som das águas. Uma marcha que tem objetivo certo, mas resultado incerto. Caminhar para chegar a algum lugar em que se precisa estar. Não sozinho, nem com qualquer um, mas com companheiros que antes tão longe, agora estavam ali, passo a passo, erguendo bandeiras de solidariedade entre os que lutam, persistentes e olhando sempre para frente.

E então começamos a entender o que o caracol nos disse todos estes dias: Lento, porém avanço.




Um comentário:

  1. Cuba também caminha como o caracol. Lenta, mas com certa convicção. Aguardo anciosamente para ler as impressões de vocês sobre o país de Fidel.

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